terça-feira, novembro 01, 2011

Poema XXX




Para ficar próximo do sempre
tens de decidir-te nos difíceis momentos em que,
acompanhado, permaneces só.
Cada um pode acreditar no que quiser, mas a vitória maior
é permanecer no coração de quem nos ama.
Neste cemitério que é a vida, tens de apelar
a uma energia que te supere, não àquilo que é divino
mas ao que permanece profundamente humano,
ao que te faz descobrir uma outra porta,
aquela por onde o amor não deixa de fluir,
porque o amor derrubará essa porta se a mantiveres fechada.
Não percas a noção de que és o motor da tua vida,
um impulsionador da realidade, nem
te envergonhes do que dela podes retirar.
Só assim poderás ou voltarás a amar.

Não te adornes com a mentira, com a ganância,
com o pouco que tens,
porque sempre terás pouco,
porque sempre o muito não fará de ti melhor,
a não ser que semeies para colher,
que dês para receber,
que saibas ensinar para aprender todos os dias.

Os momentos mais surpreendentes são
aqueles em que ofereces, não aqueles em que recebes.
Só desse modo poderás sentir-te maior
do que a distância. Só quando caminhares
por dentro de ti mesmo, em busca de ti mesmo,
poderás encontrar outros, e mais outros, e outros ainda,
em recantos, em ruas, nas praias que há em ti.
E verás como esses outros são iguais. E como estão
próximos daqueles que tu amas e daqueles que te amam.
Sorri. Já não estás só. Há coisas difíceis de abordar
mas que não são problemas. Nem talvez soluções.
Procura-te na luz que regressa às tuas mãos. E nela
invoca a moeda de três faces com que os pobres
compram os momentos que a vida nunca tem
para lhes dar.





JOAQUIM PESSOA, 
in O POUCO É PARA ONTEM 
Litexa Editora, 2008

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