sexta-feira, abril 30, 2010

Silence



silence
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a
looking

bird:the

turn
ing;edge, of
life

(inquiry before snow


ee cummings

quinta-feira, abril 29, 2010

Poema junto à ponte em Ten-shin




Março chegou ao contraforte da ponte,
Sobre mil portões pendem ramos de pêssegos e de alperces,
Pela manhã há flores de cortar o coração,
E o anoitecer leva-as com as águas para leste.
Há pétalas nas águas já passadas e nas que passam,
E no retornar dos redemoinhos,
Mas os homens de hoje não são os homens de outros tempos,
Embora de modo igual se debrucem sobre a ponte.

A cor do mar move-se ao amanhecer
E os príncipes ainda estão em filas, junto ao trono,
E a lua cai sobre os portais de Sei-jõ-yõ,
E pega-se às paredes ao topo do portão.
Com capacetes cintilantes contra a nuvem e o sol
Os nobres saem da corte, para fronteiras distantes,
Montam cavalos que parecem dragões,
Cavalos com cabeçadas de metal amarelo,
E as ruas abrem alas para que passem.
Altiva a sua passagem,
Altivos os seus passos a caminho dos banquetes,
Dos grandes salões com comida esquisita,
Do ar perfumado e raparigas a dançar,
Das flautas límpidas e do cantar límpido;
Da dança dos setenta pares;
Das perseguições loucas pelos jardins.
A noite e o dia são dados ao prazer
Que eles pensam durará por mil Outonos,
Inesgotáveis Outonos.
Para eles os cães amarelos uivam presságios em vão,
E que são eles comparados com a senhora Ryokushu,
Que foi causa de ódio!
Quem entre eles é um homem como Han-Rei
Que partiu sozinho com a amante,
Ela de cabelo solto, e ele o seu próprio barqueiro!

(Rihaku)

ezra pound
catahay
tradução gualter cunha
relógio d´água
1995

O Livro das Horas


5.
(…)

Estão entregues a centenas de supliciadores tais,
e, agredidas pelo bater de cada hora passada,
circulam solitárias em torno de hospitais
esperando cheias de medo o dia da entrada.
Aí está a morte. Não aquela cujo cumprimento
na infância estranhamente as tocou,
a pequena morte, como ali se designou;
a sua própria morte está nelas como um fruto que passou
verde e sem doçura, sem amadurecimento.

6.

Senhor, dá a cada um a sua própria morte.
Morrer que venha dessa vida
durante a qual amou, sentido encontrou, teve má sorte.

7.

Porque nós somos apenas a casca e a folha.
A grande morte, que cada um em si traz,
é o fruto à volta do qual tudo gira.

(…)


28.

Pois vê: hão-de viver e multiplicar-se em festa
e não serão submetidos à temporalidade
e hão-de crescer como as bagas da floresta
e abrigar o solo com suavidade.
Pois felizes são os que nunca se afastaram
e silenciosos à chuva e sem tecto ficaram;
até eles chegarão todas as colheitas
e o seu fruto será pleno multiplicando receitas.
A todos os finais hão-de sobreviver
e aos reinos cujo sentido vai desaparecer,
e como mãos descansadas se hão-de erguer
quando as mãos de todas as classes da sociedade
e de todos os povos cansadas estiverem de verdade.


O Livro de Horas
(Terceiro Livro: O Livro da Pobreza e da Morte)
Rainer Maria Rilke

desobediência civil


se a preguiça encantadora dos homens
deve acabar a sua obra e a sua língua de fogo
unir os dias e as noites do desejo
então saudemos as grandes afirmações:
«a poesia deve ser feita por todos» e
«a poesia é feita contra todos»

os devoradores de cultura podem sair pela esquerda alta
fiquem os amantes obscuros e o único os raros
todos os nus
porque a língua portuguesa não é a minha pátria
a minha pátria não se escreve com as letras da palavra pátria

Vêde
sobre a coroa de silêncio do vulcão adormecido
uma ave a sua plumagem de cores trémulas
e as asas que escrevem letra a letra o nome definitivo do homem
e no entanto multidões de gnomos
cada qual com o seu estandarte
esperam à entrada dos cemitérios
para saudar o fogo-fátuo

eu passo de bicicleta à velocidade do amor
atravesso a terra de ninguém com um dia de chuva na cabeça
para oferecer aos revoltados


antónio josé forte
uma faca nos dentes
parceria a. m . pereira
2003

terça-feira, abril 13, 2010

Perfil de primavera


Nas mãos que eu ergo acima desta ausência.
O meu sangue desperta, cria raízes no teu sangue
Nos jardins desertos da nossa solidão.
As minhas mãos, as tuas mãos, os corpos abraçados
E a única cidade construída para o nosso amor:
Nua, inquieta.
Clandestina.
A tua boca no meu peito. Os beijos
Demorados. E todos os silêncios.
As ruas que eu abri no teu olhar
Começam nos meus dedos.
Vem,
Eu amo-te.

Joaquim Pessoa
>SLV>
>KISS by Davinia Hart>