Está tudo bem,
mãe,
estou só a
esvair-me em sangue,
o sangue vai e
vem,
tenho muito
sangue.
Não tenho é
paciência,
nem tempo que
baste
(nem espaço),
deixaste-me
pouco espaço para
tanta existência.
Lembranças a
menos
faziam-me bem,
e esquecimento
também
e sangue e água a
menos.
Teria cicatrizado
a ferida do lado,
e eu ressuscitado
pelo lado de
dentro.
Que é o lado
por onde estou
pregado,
sem mandamento
e sem sofrimento.
Nas tuas mãos
entrego o meu
espírito,
seja feita a tua
vontade,
e por aí adiante.
Que não se
perturbe
nem intimide
o teu coração,
estou só a morrer
em vão.
Manuel António
Pina
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