A agricultura natural do japonês MASANOBU FUKUOKA
Atualmente nos deparamos com
múltiplas formas de manejo e cultivo agrícola e florestal: algumas bebendo na
fonte de sabedorias antigas, mas duradouras; outras no hightech da automação e
controle de todas as fases da produção; e ainda as que aparecem aqui e ali,
usando criatividade até mesmo para inovar nos nomes. Ao longo da vida
profissional e de estudo, já me perguntei: e se não fizermos nada? Bom, há
práticas que têm “o não fazer nada” como etapa indispensável para a recuperação
natural da floresta e do solo. Mas a questão persiste: e não fazer nada,
“sempre”, é possível? Alguém disse que sim: hoje vamos falar um pouco de quem
vivenciou a agricultura natural, senhor Masanobu Fukuoka.
Masanobu Fukuoka nasceu no Japão,
em 1913, em Iyo, prefeitura de Ehime, Ilha de Shikoku e faleceu em 2008, aos 95
anos; no início de sua vida profissional estudou e trabalhou com patologia
botânica, ou seja, com as doenças das plantas. No entanto, ele mesmo foi
acometido de grave pneumonia aos 25 anos, ficando enfermo e convalescendo-se
por longo tempo. Após recuperar-se confessou que sua visão de mundo havia
mudado radicalmente: “A inteligência dos seres humanos não tem utilidade, foi
disso que me dei conta. Minha vida é praticar agricultura natural, sendo um
agricultor. Tudo que preciso fazer é apenas comer e dormir, essa foi a minha
conclusão.”
Plantio direto, uso de cobertura
morta, da adubação verde; plantio de espécies companheiras, consorciação de
culturas e não utilização de adubos químicos solúveis e de agrotóxicos são
algumas das práticas por ele aplicadas, às vezes simultaneamente. Mas ao modo
da natureza, sem seguir fielmente as regras de uma técnica no espaço e no
tempo, nem tampouco se prendendo aos limites da técnica em si: a agricultura
natural para Fukuoka é fluida, flexível como o bambu, criando soluções quando
estas são necessitadas. Tudo em harmonia com a natureza. Em suas experiências
com arroz, Masanobu Fukuoka preconizava o plantio a lanço, diretamente no solo,
fazendo o espalhamento de palhas após a semeadura. As palhas fariam o controle
natural das ervas indesejadas, que poderiam competir com o arroz, como também
serviriam para a fertilizar o solo. Devido a esse tipo singular de manejo suas
ideiasficaram conhecidas como “a revolução de uma palha”.
Uma revolução pode começar por
essa única palha. Essa palha é tão leve, tão pequena, mas as pessoas não
conhecem o peso, o significado dessa palha. Se as pessoas conhecessem o
verdadeiro valor dessa única palha, isso causaria uma revolução humana, mudando
a estrutura social de todas as nações. (Masanobu Fukuoka).
O resultado, com produções de
arroz em igual quantidade ou maiores que os demais agricultores que utilizaram
outras técnicas, chamou a atenção no seu entorno e em outras partes do mundo.
Assim, vários interessados, especialmente jovens, começaram a se juntar a ele
praticando seu método e redescobrindo valores esquecidos ou não conhecidos.
Outra “marca registrada” da
prática da agricultura natural de Fukuoka são as “bolas de sementes”: são de
fato “bolotas” de solo, argila e sementes, dessas que fazemos no parquinho
quando crianças. Como não poderia deixar de ser, fazê-las é simples: junta-se
em um balde vários tipos diferentes de sementes, ervas medicinais, flores,
frutas, de cultivo agrícola, forrageiras, leguminosas e vai se jogando terra,
misturando-se bem as sementes e depois acrescenta-se argila. Importante ficar
com consistência para se poder moldar as bolotas, com uns 2cm de diâmetro. Uma
vez prontas Fukuoka ia a campo e simplesmente as jogava, atirando-as livremente
por toda a área escolhida.
Ele explicava que as sementes
assim envolvidas em argila não seriam comidas por pássaros ou ratos e também
não pereceriam, aguardando as primeiras chuvas para germinar. Da germinação em
diante cada qual seguiria seu ciclo natural, seguindo apenas às leis da
natureza. Desta forma, apenas as sementes que estivessem adaptadas ao local –
clima, solo, altitude etc. – permaneceriam: sem interferência, cresceriam
fortes e saudáveis.
Seus pensamentos e métodos foram
registradas em livros apenas a partir dos seus 62 anos de idade, chamados
“Agricultura Natural, Teoria e Prática da Filosofia Verde (Editora Nobel) e “A
revolução de uma Palha: uma Introdução à Agricultura Selvagem” (Editora Via
Optima).
Em reconhecimento ao seu trabalho
diretamente com as comunidades da Ásia e África ganhou, em 1988, o Prêmio Ramon
Magsaysay, o “Prêmio Nobel” da Ásia, por serviços públicos.
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